domingo, 21 de abril de 2019

T.A.P.E.T.E E P.O.E.I.R.A





Tapete e Poeira


Pensa em algo que eu não gosto de fazer. Lavar tapetes e pano de chão.

Quando limpos estes não devem ser arrumados no mesmo lugar. Devem ficar separados. Não há nenhum sentido nisso. Assim aprendi e é quase uma mania a me dominar.

Quando sujos sim, podem ser misturados, de molho, em água e sabão, num caldo só, até a sujeira desapegar, e, depois de esfregar muito, fica estendido no sol e no ar.

Parece até discriminação. Não deixa de ser. Quando limpos ficam separados. Sim discriminação de tapetes e panos de chão, mas não como uma segregação do tipo “racial”.

Panos e tapetes não sabem que existem. Pessoas sim sabem. Ainda que não consigam definir com clareza quem são, de onde vem e pra onde vão.

Tapetes e panos possuem todos os dias a mesma missão: lidar com poeiras que caem no chão.

Impossível acabar com poeiras. 
Limpa um canto, suja o outro. Todos os dias existem. Dia e noite é precipitação.  E dão sentido aos tapetes e aos panos de chão.

Talvez por isso estes, se pensassem, saberiam responder “o que eu sou?”.

Diriam, se minha existência está ligada a “limpeza” do mundo, algo impossível pois, desde que o mundo é mundo, poeiras sempre existiram e logo, minha existência é em vão. Trágica conclusão.

O ser que existe - dito humano - ou que pelo menos pensa que existe, vive todo dia, pisando em tapetes e panos de chão, que guardam poeiras pra si, tudo em vão.

Eternas poeiras cósmicas, nunca findarão, sempre existirão. Será que são seres inanimados ou princípio da evolução escrachando com a criação?.

E por que se fez luz no princípio? Por que já existia poeira, muito densa, vastidão. 


Densa e perturbadora e seus fragmentos contínuos, se estendem até hoje pelos cantos da sala e no chão.

Revelado o sentido da existência do tapete e do pano de chão, seres inanimados, que quando limpos, não devem ser organizados no mesmo vão.

O ser que o pisa e limpa seus pés no tapete, por tempos ainda há de se perguntar “de onde vim?” e também resmungar até quando vão existir poeiras no chão.

Ser insano, se acha pensante e ignora a razão.



Marcos Sousa


* Da série de poemas "Inanimados Existenciais"


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